Antonio Gonzaga de Alencar - Praxedes

07/05/2022

Luiz Gonzaga de Alencar, Praxedes, é natural de Araripe. Filho ilustre de família tradicional do município. Sendo filho bastardo (fora do matrimônio), foi criado por Ana Cecília, avó de Antônia de Anísia (Antônia de Brechó). Ana Cecília morava na Chapada da Cruz do Monte, em uma casinha de taipa. Lá existia um aviamento. Seus familiares, e Joaquim Paulino (Mestre Quinco), plantavam mandioca e produziam farinha e goma, para sobrevivência.

Com 23 anos de idade, Praxedes foi estudar música em Recife, levado por um provável tio - Felinto Nunes de Castro Alencar. Permaneceu seis meses na capital pernambucana.

Depois foi para o Rio de Janeiro, levado por Antônio Arraes de Alencar. Na capital do Rio de Janeiro, entrou para o Exército Brasileiro e atingiu a patente de sargento. Chegou a ser membro da Banda Filarmônica do Rio de Janeiro. Tocou no Cassino da URCA, onde foi vencedor em 1º lugar num concurso daquela casa de eventos, como músico de trombone de vara. Praxedes tocava muitos instrumentos.

Na época em que foi para recife, deixou uma namorada compromissada a sua espera. Com dois a três anos, soube que a mesma o havia traído com o próprio tio dela. Ele ficou muito decepcionado.

Quando voltou do Rio de Janeiro para Araripe, alguns conterrâneos duvidaram que ele soubesse tocar e se o mesmo tinha tocado na URCA. Interessados também em aprender música com professor, os rapazes Antônio Nunes Alencar, Eliomar Guedes e José Nunes, fizeram pedidos de partituras a Companhia Vinil Ltda. do Rio de Janeiro. De posse das partituras, um dia desafiaram Praxedes. Queriam conferir se ele tocava certa música olhando a partitura. Ele virou a partitura ao contrário e tocou. Ficaram boquiabertos. Ao terminar, disse ele: "conferem, filhos de uma égua"?

Apesar do tempo que passara, das conquistas na carreira miliar e na música, a paixão pela namorada que o traiu, feriu seu coração em demasia. Com isso, Praxedes se entregou ao vício da bebida. Bebendo e tocando em seu trombone de vara, perambulava diuturnamente pelas ruas e largos da natalícia Cidade de Araripe. Ébrio, se lamentando com a voz pérrea, dizia o gênio da música, Praxedes: "Um Sargento do Exército. Um músico que tocou na URCA. Um homem de bem. Nessas condições: barrigudo. Inchado... e embriagado. Sem rumo".

E tocava em seu trombone. Seu único companheiro. Um salvo conduto para aliviar a dor da traição. Da paixão e da saudade. E Praxedes subia e descia a Cruz do Monte. Bradando o seu desabafo no seu trombone. Incomodado pela cirrose e pelo peso da barriga d'água. Até que em 1950, a morte o levasse para o céu, arrebatando o da casinha de taipa da Chapada da Cruz do Monte...

Ficou seu trombone. Solitário. Sem ninguém que o tocasse.

E pensar que aquele instrumento foi derretido e transformado em solda branca. Talvez para soldar, quem sabe, a dor concreta e capitalista dos corações de pedra.


Texto de:

Olga Maria Loiola Alencar de Sousa e 

Antônio Hélio da Silva



Araripe - Ceará, 06 de maio de 2011.